terça-feira, 18 de março de 2014

Pobreza em Ipojuca contrasta com desenvolvimento econômico de Suape

O Complexo Portuário de Suape – que compreende distrito industrial e porto marítimo – fica entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Surgiu como solução à inoperância e defasagem do Porto do Recife, cuja história coincide com a da capital. Suape contribuía para o discurso de pleno emprego propagado pelo governo. A pesquisa de mestrado “Os sinuosos caminhos do desenvolvimento: desigualdade social e pobreza em Ipojuca”, realizada pelo assistente social Thiago Antônio Pereira dos Santos no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, contradiz esse argumento desenvolvimentista: “O governo vendeu a ideia do pleno emprego e agora chegou a uma encruzilhada.”
Orientado pela professora Ana Cristina de Souza Vieira, Santos observou o cenário socioeconômico de Ipojuca no período de 2000 a 2010 e constatou que o crescimento econômico do município não se refletiu na melhoria da qualidade de vida dos moradores. “O acesso ao trabalho formalizado não vem significando melhoria na qualidade de vida na perspectiva da infraestrutura urbana e de políticas públicas”, explica. Segundo ele, comparando-se, na década analisada, o Produto Interno Bruto (PIB) do município com o quanto foi investido em políticas públicas, chega-se à conclusão de que as empresas do Complexo Portuário são as grandes beneficiadas por Suape. O PIB, entre 1999 e 2009, cresceu quase sete vezes: foi de R$ 1.051,6 bilhão para R$ 7.082,4 bilhões.
 
“O ritmo acelerado do crescimento econômico não vem possuindo correspondência no fortalecimento da rede de políticas públicas em um território no qual, além dos desiguais acessos ao incremento do excedente produzido, estão a se aprofundar diferenciações quanto ao acesso aos direitos sociais como saúde e educação pela via de sua respectiva financeirização”, diz ele.
 
A pesquisa também aponta que Ipojuca apresenta a maior população rural ou de área periurbana da Região Metropolitana do Recife. Grande parte dessa população está concentrada em vilarejos, uma herança dos antigos engenhos de cana-de-açúcar, produto que significou, por séculos, o projeto econômico do município.
 
O fenômeno pode ser explicado, primeiramente, pelas desapropriações dos moradores da região onde foi construído o Complexo de Suape. Foram 17 comunidades em conflito aberto com a execução do projeto. Em um segundo momento, a especulação imobiliária e o aumento do custo de vida desencadearam uma reação de “êxodo urbano”, de forma que, enquanto a população urbana de Ipojuca cresceu 30% entre 2000 e 2012, a população rural seguiu constante. “Dos 14 municípios que compõem a RMR, Ipojuca, em 2010, apresentou relativamente o maior peso do setor industrial na composição do seu PIB (31,14%), simultaneamente, caminhou para um aumento populacional rural nos dez primeiros anos”, afirma.
 
Em 2010, Ipojuca registrou média de analfabetismo de 8,47%, acima do percentual da RMR. No entanto, isso significa que um quinto da população maior de 10 anos (19,21%) é analfabeta. Já o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade é inferior ao do município do Cabo de Santo Agostinho, onde Suape também está localizado. De acordo com dados do Censo de 2010 do IBGE, Ipojuca obteve o segundo menor IDH da RMR.

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