segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A inflação forasteira em Suape

CUSTO Valorização imobiliária é um dos problemas dos nativos de Suape, que viram custo de vida aumentar com chegada de empresas

Adriana Guarda

Moradores nativos de Suape enfrentam o lado obscuro da riqueza do complexo. A valorização imobiliária desenfreada e a pressa em desocupar terrenos para instalar empresas, empurra a população pobre da região para a submoradia. Empresas alugam casas e pousadas para transformar em república de trabalhadores importados de outros Estados e contribuem para a explosão dos preços. A Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) estima que o valor do metro quadrado na região saltou de R$ 500 para R$ 2 mil.

O pedreiro Elias Severo da Silva, de 24 anos, construiu uma casa de tábua no terreno onde sua mãe mora, no Engenho Algodoais, em Suape. “É melhor ficar por aqui, porque o preço do aluguel está pela hora da morte. Uma casa de dois quartos, que antes se conseguia alugar por R$ 300, agora está custando R$ 600. Não dá para pagar”, diz. Há 6 meses, ele conseguiu uma vaga na obra da PetroquímicaSuape. Com o salário líquido em torno de R$ 800, se fosse pagar aluguel, não sobraria quase nada para sustentar os dois filhos e a esposa.

“Suape tem oportunidade de trabalho, sim. Já passei por obras da Pernambuco Construtora, da HR Brasil e agora estou na Odebrecht. O problema é que a vida ficou difícil para quem é nativo. Esse pessoal de fora que veio trabalhar aqui fez o preço de tudo aumentar. Isso inclui não só o aluguel, mas o preço da feira, do gás de cozinha, da roupa. Está tudo mais caro”, reclama.

O presidente do Sindicato da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon), Gustavo Miranda, diz que é difícil ter um referencial de preços para a região. “O valor do hectare no entono de Suape cresceu em progressão geométrica. Não dá nem pra apontar um preço, porque vai variar de acordo com a oportunidade. Isso sem falar na falta de terrenos na região”, diz, destacando que essa valorização vai para além dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes. “Essa mudança de patamar vale para, pelo menos, sete cidades da vizinhança de Suape”, completa.

Se o presidente do Sinduscon prefere não apontar valores, empresários que vivem de perto a especulação imobiliária na região dizem que o preço do hectare na região de Suape subiu para R$ 1 milhão nos últimos 2 anos, numa valorização de 1.000%.

Outro complicador é o déficit habitacional nos cinco municípios da vizinhança de Suape (Cabo, Ipojuca, Jaboatão, Moreno e Escada) que, segundo a agência de planejamento do Estado Condepe/Fidem está estimado em 35 mil residências. Numa projeção para 2035, esse saldo negativo deverá saltar para 85 mil moradias.

A Praia de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, é um exemplo emblemático desse déficit. Depois da ocupação da comunidade pelos forasteiros que trabalham em Suape, o número de invasões explodiu. Situação semelhante se vê em Ipojuca. Os programas habitacionais dos municípios não acompanham a velocidade da demanda por casas na região. E a situação ainda tende a piorar. Isso porque, este ano, a obra da Refinaria Abreu e Lima entra na fase de pico da construção e terá 38 mil funcionários e parte deles vai habitar a região e inflar o déficit.

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