segunda-feira, 14 de março de 2011

Pousadas trocam turistas por trabalhadores e empresários



Deu no Diário do Nordeste

Complexo portuário muda perfil de hóspedes em Gaibu. Empresários do setor hoteleiro comemoram

Cabo de Santo Agostinho (PE) Na condição de uma das mais badaladas praias do litoral pernambucano, Gaibu, no município de Cabo de Santo Agostinho, só poderia ter o turismo como sua principal atividade econômica. A cidade possui várias pousadas e restaurantes para atender aos visitantes. Porém, os clientes que estão ocupando boa parte desses leitos não estão mais se deslocando para lá somente em busca de lazer. A expansão do complexo portuário de Suape, que pode ser visto de um dos morros da localidade, tem trazido uma movimentação diferente.

Passando pelas ruas do distrito, encontram-se inúmeras pousadas fechadas. Os vizinhos explicam: está tudo já fechado para os funcionários de Suape. Se antes os turistas eram os principais ocupantes, hoje os donos de pousadas viram na grande massa de trabalhadores do porto e do complexo um filão bem mais lucrativo, e fecham contratos de hospedagem de meses com algumas empresas.

Ao final da tarde, percebe-se melhor a mudança no perfil da praia, pelo menos durante os dias de semana. Ao invés do vai e vem de pessoas com trajes de veraneio, vêm filas de trabalhadores fardados com macacões saindo dos ônibus em direção às suas acomodações. Gaibu, com pousadas de diferentes padrões, tem abrigado executivos e trabalhadores de chão de fábrica das empresas do complexo.

Entre as pousadas da praia, uma das mais bem estruturadas é a Caravelas de Pinzón, que tem o perfil do visitante que busca uma bela praia e muito conforto. Entretanto, apesar de ainda abrigar muitos turistas, a parcela de hóspedes que chegam à cidade para trabalhar no complexo já é maior.

"Antes, eram mais turistas de lazer. Hoje, tem o público empresarial. Suape é um grande polo de empregos e temos agora 60% dos nossos hóspedes entre empresários", informa o proprietário da pousada, Ricardo Varjal, que é um dos primeiros empreendedores do local.

A Caravelas está em funcionamento há sete anos, começou com 21 apartamentos e hoje possui 46, e já tem planos de expandir, com a compra do terreno ao lado. "Logo depois que começamos, Suape iniciou o seu crescimento. Temos hoje muitos empresários que passam longas temporadas aqui, porque além do conforto, temos a proximidade do complexo", esclarece.

A inclusão desse novo público tem garantido lucros sempre estáveis para o Varjal. "Há três anos que não temos baixa estação. O problema hoje é a oferta de vagas. Em julho passado, concluímos a ampliação e achávamos que demoraríamos um ano para ocupar tudo, mas, em menos de 90 dias, preenchemos todos os leitos", diz.

Por conta dos novos clientes, o empresário resolveu construir dois salões para eventos no local, um para 55 pessoas e outro para 85. O objetivo é ir seguindo a nova realidade.

LADO NEGATIVO
Favelização já existe no entorno dos municípios

Infraestrutura não acompanha crescimento acelerado da região. Problema semelhante pode atingir o Ceará


Cabo de Santo Agostinho (PE) O que hoje é uma preocupação para o futuro dos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, que abrigam o Complexo Industrial e Portuário do Pecém aqui no Ceará, já é uma realidade em alguns pontos nas cidades de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que englobam o entorno de Suape. A favelização, que traz junto problemas como falta de saneamento, prostituição e drogas, é um mal a ser resolvido em algumas localidades. É o caso de Gaibu, em Cabo de Santo Agostinho.

Por lá, estes problemas existem, ainda que de forma pouco intensa. Mas os moradores, preocupados, apontam para o agravamento da situação, visível a partir da chegada de mais habitantes e da construção de moradias sem regularidade.

Uma moradora, que não quis se identificar, diz que a criminalidade já cresceu. Além disso, ela cita que a prostituição se amplia com a instalação de inúmeros trabalhadores no distrito, assim como o consumo de álcool. "O perfil do distrito, de beleza e calmaria, já não é mais o mesmo. Como ficamos a cerca de 15 minutos de Suape, tem muita gente vindo pra cá, de forma desordenada", reclama o morador Sérgio Perucho.

A supervalorização dos terrenos é um dos motivos que os nativos apontam para a aglomeração de habitações irregulares. "Daí, estão se formando ruelas sem saída, com lamaçal separando as casas, em ruas sem asfaltamento", reforça Perucho.

"A situação aqui está complicada", grita de longe outro morador ao ver a equipe de reportagem. Por conta dos terrenos caros, tem gente construindo casas em áreas de preservação, na floresta tropical, como as matas do Tiriri e do Zumbi.

"A infraestrutura não acompanha o rápido crescimento da região. É preciso ter um controle maior um plano diretor, de ocupação, de trânsito", sugere Perucho. A prefeitura tem realizado algumas ações, como a revitalização da rua principal e a construção de uma escola modelo. Todavia, segundo o morador, o distrito ainda é carente de iluminação pública, muitas ruas não têm nome, e serviços básicos, como correios e cartórios. "A gente não é contra o progresso. Só que é preciso ter cuidado. Gaibu ainda não é um caso perdido", ressalta.

SÉRGIO DE SOUSA

2 comentários:

  1. Desde o evento da partilha do ICMS gerado por SUAPE eu venho dizendo:
    Nos primeiros cinco anos o ICMS gerado deve ser dividido igualitariamente entre Ipojuca e Cabo pelo menos para se tentar adequar as duas cidades a realidade de possuir estaleiros, refinaria, siderúrgica e montadora.
    Se toda infraestrutura não receber uma injeção que duplique ou triplique todos os serviços oferecidos (Saúde, habitação, educação e segurança) e as prefeituras não trabalhem em conjunto, muito rápido deixaremos de morar às portas do inferno, passaremos para o lado de dentro.

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  2. (Antes que nada, verão erros de ortografia e sintaxis.. estou sem apoios de corretores e sou extrangeira re-aprendendo o portugues.)

    E tarefa da prefeitura do Cabo estudar este problema mais a fundo, tal vez criar medidas para promover o assentamento dos trabalhadores fora das areas turisticas..., nao sei. A necessidade esta ahi, e não esta encontrando respostas adequadas, assim como tambem os moradores oriundos da região estão sendo afetados, pelo turismo,e tambem por este novo tipo de ocupação.

    E uma responsabilidade das prefeituras se antecipar aos problemas do crecimento e das mudanças nas areas urbanas. Procurar as soluções, ideias, acompanhar a implemantação e aplicação de novas normas, ou projetos..evaluar conjuntamente a sociedade os resultados e a dinamica gerada.

    ...Principalmente em momentos em que mais e mais recursos estão sendo incrementados dentro dos cofres do municipio. E responsabilidade dos moradores, empresarios, turistas, etc., respeitar as normas de convivencia, higiene, uso dos espaços publicos, uso correto da infraestrutura.. e por que nao??? Contribuir nas ideias, propostas e ações que melhorem o seu entorno. E uma historia de ganhar-ganhar.

    Como extrangeira recentemente de volta ao Brasil, Recife propiamente, idealizava a posibilidade de morar em Gaibu, com a visão de contribuir de alguma forma a esta população onde passei tempos maravillosos anteriormente...porem a realidade e assustadora. Não e dificil visualizar o futuro desta bellissima região, nas suas varias versões: fruto da omissão e inoperancia de gestão, ou resultado de uma vontade consciente e determinada, nascida do amor a terra e ao patrimonio natural, cultural e urbano, de contribuir com todos os recursos existentes para garantir a preservação do habitat e qualidade de vida na regiao.
    E ate romantico.. nao e?

    Como arquiteta oriunda de outro pais, tive a experiencia de viver e acompanhar desde a infancia um excepcional momento historico que, bem aporoveitado, mudou completamente o futuro de uma cidade, uma regiao. A exepcionalidade se refere justamente as circunstancias que geraram aumento importante de recursos publicos, que aliou-se a vontade politica e capacidade tecnica. Uma cidade saiu do pouco que era, para se tornar inicialmente um projeto, e logo territorio construido. Graças a visão oportuna, de autoridades, moradores, e profesionais locais, não se perdeu a oportunidade de uma herança para o futuro. Fui testemunha viva desta experiencia, de vontade politica equacionada com recursos publicos e capacidade de gestão....

    Me pergunto qual sera o futuro de Gaibu e as areas vizinhas... Gaibu, cronica de uma morte anunciada???

    Quem conhece o que esta se fazendo para evitar este fim da historia, gostaria de receber informação. Ficaria muito grata.

    Fico sempre, sempre com a esperança.

    gonzalezcavalcanti@gmail.com

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