sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Funase do Cabo funciona sob ordens dos internos

Reportagem do JC flagrou internos com facões. Mães denunciam que quem manda no Case são os internos e que a diretoria é conivente com o esquema de regali

Do JC           

                 Foto comprova que internos andam com facões / Foto: Tiago Calazans/JC Imagem

Foto comprova que internos andam com facões

Foto: Tiago Calazans/JC Imagem

As mães dos três jovens assassinados na rebelião da última terça-feira, no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) do Cabo de Santo Agostinho, denunciam que seus filhos foram mortos por causa da guerra do tráfico dentro da unidade. Elas contam que quem manda no Case são os internos e que a diretoria é conivente com o esquema de regalias, extorsão e violência. Na tarde de quinta-feira (12), apesar do clima de tranquilidade no Case do Cabo, a reportagem do JC fotografou internos circulando com pedaços de madeira nas mãos e até com uma foice.
O cenário que culminou com a rebelião começou a ser desenhado no dia 21 de novembro com a apreensão de dois quilos de maconha dentro de uma cela do Case do Cabo. Três internos que comandavam o pavilhão 1 foram autuados em flagrante e transferidos para o Centro de Triagem, em Abreu e Lima, por serem todos maiores de 18 anos.

                   

“Os meninos se reuniram e disseram que meu filho ia ser o novo comando. José Mário era grande e forte, por isso foi escolhido. Daí em diante, ele passou a morar sozinho em uma cela com quatro ventiladores, televisão de LCD, DVD, uísque e maconha à vontade. Toda quarta e sexta, meu filho e os outros do comando arrecadavam R$ 10 com as visitas de cada um dos 160 meninos do pavilhão”, relatou a dona de casa Eliane Guilherme de Lima, mãe de José Mário de Oliveira Filho, 18 anos, o primeiro a ser assassinado na rebelião.

Eliane Guilherme de Lima diz que a maconha negociada pelo seu filho dentro da cadeia era levada por agentes de desenvolvimento social. “As mães não podem entrar nem com um sabonete. Quem coloca a droga lá são os funcionários. Do dinheiro que era arrecadado, metade ia para a mão dos agentes”, assegurou a dona de casa que vive em um barraco de dois cômodos, num beco de uma favela da Zona Oeste do Recife.

“A gente vive aqui na miséria. De dois meses para cá, eu chegava para visitar meu filho e encontrava ele de roupa nova, cordão de prata no pescoço, celular, boné e óculos escuros. Não teve rebelião nenhuma, o que aconteceu terça-feira foi que um outro grupo ofereceu uma comissão maior para os agentes e eles deixaram a turma do meu filho ser atacada. Mataram José Mário e os outros dois que foram ajudar ele para poder dominar o tráfico”, garantiu a dona de casa.
José Mário estava há dez meses na Funase por ter roubado um cordão de prata de um homem, no Carnaval do ano passado. Ele já havia sido detido em 2010 com três dólares de maconha. O corpo do jovem foi sepultado na manhã de ontem, no Cemitério da Várzea, Zona Oeste do Recife.

A dona de casa Lucicleide Lemos de Fraga enterrou na manhã de quinta, no Cemitério de Igarassu, o corpo carbonizado do filho Alan Fraga de Oliveira, 19, o segundo executado na rebelião. Alan foi o único interno a ter autorização para visitar a família nas festas de fim de ano.

“Ele chegou a comentar com um colega que foi ameaçado, mas não disse detalhe”, atestou Lucicleide de Fraga. Alan Fraga de Oliveira cumpria medida socioeducativa há um ano e oito meses, por tentativa de homicídio.

O corpo de Pedro Henrique de Oliveira Lima, 19, só foi liberado pelo IML ontem à tarde. A identificação do rapaz precisou ser feita por DNA já que ele foi decapitado e queimado. Pedro será sepultado hoje pela manhã no Cemitério de Guadalupe, em Olinda. “Meu filho já tinha mudado de cela e estava ameaçado pelos outros presos do comando. Na Funase são os presos que mandam uns nos outros”, confirmou a dona de casa Jezabel de Oliveira Lima, mãe de Pedro.

Pedro Henrique de Oliveira Lima estava há nove meses preso por tentativa de homicídio.

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